quinta-feira, 30 de junho de 2016

Cavalo encilhado não passa duas vezes


A epígrafe que dá título a este articulado é um provérbio gaúcho que significa que: “a nossa “grande chance” não nos bate à porta a todo momento”. Feito o introito, relato que li na terça (28/6), a entrevista do mais completo árbitro do futebol brasileiro de todos os tempos, Carlos Eugênio Simon.

Na entrevista, Simon elenca vários tema inerentes à arbitragem e dentre eles, a exigência da profissionalização do árbitro do futebol brasileiro como um dos mecanismos para diminuir os erros da arbitragem no campo de jogo. Na mesma entrevista, Simon realça que o melhor árbitro do futebol brasileiro na atualidade é Heber Roberto Lopes (FIFA/SC).

Também já pensei e defendi aqui neste espaço e em outros veículos de comunicação, a  causa da profissionalização. Mas, a sua concretude não é algo fácil de ser concretizada - pelo contrário - é sibilina. Se fosse fácil, as principais Ligas de Futebol da Europa, a exceção da Inglaterra, Alemanha, Espanha, França e Itália já teriam aderindo a profissionalizado dos homens de preto.

Na pesquisa que fiz junto às ligas em tela via e-mail a respeito da profissionalização do árbitro, a resposta foi objetiva. Nas diferentes discussões sobre profissionalizar ou não a arbitragem, surgiram óbices constitucionais, trabalhistas e culturais que impediram e impedem por ora a profissionalização de apitos e bandeiras.

Lembro que os ingleses são um caso a parte. Há vinte e seis anos, os inventores das REGRAS DE FUTEBOL e do “chuveirinho” na área, lançaram um projeto embrionário com sete árbitros e doze assistentes. Projeto que foi lapidado como se lapida uma safira e a pontualidade inglesa ano após ano, e por isto deu certo. Vários países implementaram recentemente a profissionalização em caráter experimental, como Portugal e Turquia, porém, para um grupo restrito de árbitros e assistentes. O que clarifica que a profissionalização não é tão fácil como se propaga.

A arbitragem brasileira teve a oportunidade extraordinária de conseguir a profissionalização da categoria, quando em 2002, um grupo de notáveis formado por árbitros e ex-árbitros elaboraram um projeto que ao ser protocolado em Brasília, ganhou a rubrica de Projeto de Lei Nº 6405/2002. Projeto que contemplava a profissionalização do homem do apito na sua plenitude, e lhe dava as garantias necessárias para exercer seu mister.

Por desleixo dos sindicalistas e, sobretudo, dos maiores interessados, os árbitros - pela ausência de representatividade política da classe para brigar em condições de igualdade com a cartolagem que rege o futebol pentacampeão, o indigitado projeto perambulou ao longo de onze anos na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.

Dados os motivos nominados por mais de uma década, o Projeto de Lei 6405/2002, foi sendo descaracterizado paulatinamente através de emendas, apensos e penduricalhos e transformado em outubro de 2013, no DECRETO LEI Nº 12.867. Decreto que reconheceu a atividade do árbitro de futebol no Brasil como profissional e nada mais.

De lá para cá, os sindicalistas de arbitragem realizaram várias reuniões de trabalho e congressos, mas, não se conhece uma única ação eficaz na direção da profissionalização daquele que interpreta e aplica as REGRAS DE FUTEBOL no campo de jogo.

PS: Em função das dimensões continentais do Brasil, das peculiaridades de cada região, da legislação trabalhista e do momento político e sócioeconômico que vivencia o país e da oportunidade impar perdida, não vislumbro a mínima chance de se falar, que dirá profissionalizar a arbitragem do nosso futebol nos próximos cem anos.


PS (2): O desprestígio dos clubes do futebol paranaense e do futebol gaúcho em relação a presença  da arbitragem local,  nos clássicos regionais é total. No clássico Atlético/PR  0 x 1 Coritiba, o árbitro Thiago Duarte Peixoto (Asp/FIFA/SP), errou contra o rubro-negro da Arena da Baixada, ao não marcar pênalti indiscutível em desfavor do Coritiba. No Paraná, arbitragem “neutra” deu “chabu”. Já o Gre-Nal do próximo domingo, (3/7) no Beira-Rio, também terá arbitragem “neutra”. Dewson de Freitas (FIFA/PA). Além de evidenciarem uma cultura anacrônica em relação ao fato, os cartolas do futebol do Paraná e do Rio G. do Sul, teem um aliado incondicional que alimenta a rejeição a arbitragem local em clássicos. Parte da imprensa esportiva que,  não entende patavina nenhuma das REGRAS DE FUTEBOL.    
 

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