quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Aristeu Tavares: "acabar com o erro é utopia"

Comentarista Paulo Vinícius Coelho entrevista o novo presidente da Comissão de Arbitragem da CBF, Aristeu Tavares. Confira a entrevista publicada no site da ESPN.com.br.

Aristeu Tavares foi assistente da Federação do Estado do Rio, mas companheiro de Carlos Eugênio Símon por longe período. Até mesmo na Copa do Mundo de 2006. Uma semana depois da mudança do comando da arbitragem, Aristeu falou sobre a arbitragem. O tom não difere muito do antecessor, Sérgio Corrêa. Ele protege os árbitros, elogia Wilson Luiz Seneme e fala sobre cursos de formação e atualização dos árbitros. Leia:
PVC – Seu discurso depois da rodada de domingo, falando sobre o limite da falibilidade, foi parecido com o discurso de seu antecessor, Sérgio Corrêa. O senhor não acha que mais importante do que considerar o limite da falibilidade é preciso diminuir a sensação de interferência no campeonato?
ARISTEU – Falei sobre isso quando assumi. Fui ouvidor da arbitragem e recebia DVDs sempre com grande carga no erro da arbitragem. Muitas vezes eu observava o erro e percebia que ele não era vital. Mais importante para definir o resultado era a equipe reclamante ter perdido três gols. A arbitragem tem de melhorar? Tem! Tem de minimizar o erro. Agora, digo que é utopia imaginar que o erro vai acabar.
PVC – A ideia de uma entrevista coletiva para didaticamente mostrar lances e explicar erros e acertos, mostrar publicamente o que a comissão quer. É possível isso acontecer?
ARISTEU – Eu pergunto a você: treinador faz isso toda semana? E olha que eles dão entrevista coletiva depois de cada partida. Mas não fazem lavagem de roupa suja em público. Não é preciso querer que os árbitros sejam levados à execração pública. Digo a você: o único amador neste mundo profissional é o árbitro. É preciso mudar isso, mas não depende da comissão de arbitragem. Primeiro tem de reconhecer a profissão. Eu, como capitão da Polícia, cansei de trabalhar 16 horas, voltar para casa, tomar um banho e correr para o estádio para participar de um jogo.
PVC – Não teria uma função didática explicar o que foi erro e o que não foi?
ARISTEU – Nós fazemos isso internamente. Um problema que possuímos hoje é que o quadro está muito aberto. O árbitro precisa saber se situar. Saber que atua na Série A e um pouco na Série B… Atua na Série B e um pouco na C… Se estiver bem, ter um upgrade. Precisamos disso, dos árbitros promissores. Temos outro grande entrave: o sorteio. Você quer escalar o árbitro A e cai o B. Você quer o A, porque é mais conservador, tem mais capacidade para apitar um jogo que está de acordo com sua característica. Mas não se pode escalar um porque é do mesmo estado, outro porque é do estado do outro time, o terceiro está no sorteio e perde. Vai a quarta opção, às vezes. Disso a imprensa não sabe ou não divulga. Desde que começou o trabalho da ouvidoria, assistimos a 744 partidas. Desde maio de 2012, houve 32 reclamações. Fizemos 32 pareceres sobre arbitragem e 6 foram considerados improcedentes.
PVC – O senhor diz então que das 32 reclamações, 26 tinham razão?
ARISTEU – É esse o número. Não quer dizer que não tenha mais gente protestando, mas formalmente recebemos 32 reclamações. Seis delas improcedentes.
PVC – Como o senhor compara a arbitragem brasileira e a europeéia?
ARISTEU – É como falar de sistemas táticos. Há diferenças entre os sistemas brasileiros e os europeus?
PVC – Hoje há menos do que no passado. Como o senhor avalia haver 40 faltas apitadas no Brasileirão e 20 no Campeonato Inglês, por exemplo?
ARISTEU – Ah, o jogador aqui simula muito mais do que lá. Faz mais faltas mesmo. Se o árbitro marcou 40 faltas é porque houve 40 faltas.
PVC – Não pode acontecer de um árbitro usar a marcação de faltas para se proteger sem deixar o jogo correr?
ARISTEU – Pode acontecer. Mas isso é exceção. Procure analisar friamente as faltas, olhando para elas uma a uma. Com certeza ocorreram. Ou foram marcadas no limite da falibilidade. Agora, é preciso investir na formação melhorar a qualidade. Atualizar os árbitros, unificar critérios. Quer ver uma coisa que melhorou muito no Brasil? A interpretação de mão na bola e bola na mão. Agora mesmo no Grenal houve três jogadas muito bem interpretadas pelo Vuaden.
PVC – Qual a melhor arbitragem do mundo hoje?
ARISTEU – Não vou falar de um país especificamente. Posso falar da arbitragem sul-americana e brasileira. Em ambos os cenários, há um processo de renovação forte. Veja quem parou de apitar recentemente: Oscar Ruiz, Jorge Larrionda, Carlos Chandia, Carlos Torres, Amarillla. Venha para o Brasil: Carlos Eugênio Simon, Sálvio Spindola, Gaciba… O Alarcón tem que trocar o quadro de árbitros da Confederação Sul-Americana com o avião em pleno voo. Aí temos o Wilson Luiz Seneme, o colombiano Roldán, o chileno Osses. Outra questão: você não vê mais árbitros de aparência ruim, aqueles mais gordinhos… Quem não estiver bem e não se preparar fisicamente vai sair da escala.
PVC – O senhor é favorável à experiência de trazer estrangeiros para apitar no Brasileirão?
ARISTEU – Só se houver um convênio. Se vem alguém apitar aqui, um dos nossos tem de ir apitar lá. Mas eu não vejo essa necessidade. Precisamos fazer cursos e estamos fazendo. Atualizando os árbitros. Vamos fazer cursos de instrutores, que são muito importantes. Eles são formados nos estados e são eles os que conversam com os árbitros para padronizar a arbitragem no país inteiro. Vamos levar o trio selecionado para a Copa do Mundo para a Granja Comary para aperfeiçoamento e depois vão viajar para Zurique.
PVC – Quem é o melhor árbitro do mundo hoje?
ARISTEU – Não vou dizer do mundo. Digo do Brasil. É o árbitro pré-selecionado para a Copa do Mundo: Wilson Luiz Seneme.

Fonte: ESPN.com.br / fotos Júlio Cancellier/ANAF

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