sábado, 21 de abril de 2012

O dono da bola no Brasil

Quem é Marco Polo Del Nero, o dirigente de futebol que ocupa o vácuo de poder aberto com a saída de Ricardo Teixeira da CBF

Flávio Costa/ISTOÉ
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"O presidente da CBF é José Maria Marin. As críticas a
São Paulo são racistas. Somos todos brasileiros"

Há um mês, o presidente da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), Francisco Novelletto, fez um pedido corriqueiro à tesouraria da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Ele queria o adiantamento da cota da Copa do Brasil para um clube do seu Estado. A resposta recebida mostrou que algo havia mudado na entidade máxima do futebol brasileiro. O interlocutor da CBF informou ao dirigente gaúcho que, a partir daquele momento, ele deveria conversar com a Federação Paulista de Futebol (FPF) sobre esse tipo de assunto – leia-se dinheiro. “Isso nunca tinha acontecido antes, sempre resolvi esses casos com o departamento financeiro da CBF.” Não por acaso, a FPF é comandada pelo paulista Marco Polo Del Nero, principal aliado do também paulista José Maria Marin, presidente da CBF desde o dia 12 de março, data que marcou o fim do reinado de 22 anos de Ricardo Teixeira. Desde então, nove dos 19 ocupantes da cúpula da CBF foram substituídos por pessoas ligadas a Del Nero. Também nesse período, o dirigente paulista assumiu a cadeira que pertencia a Teixeira no comitê executivo da Fifa, se tornando um dos 24 responsáveis por decidir os rumos do esporte mais popular do mundo. Em pouco mais de um mês, o Del Nero se transformou, às vésperas da Copa do Brasil de 2014, no homem forte do futebol brasileiro.

Aos 71 anos, o filho de imigrantes italianos Del Nero obtém, paulatinamente, o poder ambicionado pelo seu antecessor na presidência da FPF, José Eduardo Farah – hoje um recluso fazendeiro criador de gado –, e atrai a ira de dirigentes que o acusam de promover um processo de “paulistanização” da administração do futebol brasileiro, após a saída de Ricardo Teixeira. “Esse movimento é insignificante e eu considero que é racismo e raiva contra São Paulo. Somos todos brasileiros”, afirma Del Nero. Conselheiro vitalício do Palmeiras e ex-presidente do Tribunal de Justiça Desportiva de São Paulo (1988-2002), o dirigente chegou à presidência da FPF em agosto de 2003, após a renúncia de Farah, à época acossado por uma série de denúncias de sonegação fiscal. Ao assumir o cargo, se aproximou de Teixeira, desafeto de Farah, com quem pouco conversa atualmente “por conta das ocupações da presidência”. Já Farah não esconde seu ressentimento: “Há duas coisas na vida que você sente muito: ingratidão e deslealdade”, disse, há dois anos, em entrevista à revista “ESPN”. Del Nero ampliou sua rede de apoio junto aos clubes do interior paulista, adotando um estilo menos imperial do que o antecessor, e inchou o campeonato estadual. Com 20 clubes na Primeira Divisão, o Paulista tem um nível técnico e uma média de público baixos. “Se você quiser extinguir centenas de clubes do interior, então pode acabar com os estaduais”, afirma.

A rede de influência de Del Nero também se estende a Brasília. Formado pela tradicional Universidade Mackenzie em 1967, ele é sócio em um escritório de advocacia na capital paulista do deputado federal Vicente Cândido (PT-SP), nada menos do que o relator da polêmica Lei Geral da Copa, aprovada na Câmara e em tramitação no Senado. “Acho que o Brasil tem que cumprir o que foi acordado com a Fifa no ano de 2007, quando foi escolhido sede da Copa de 2014. Mas não misturo minha sociedade com Vicente com os assuntos ligados ao futebol”, diz Del Nero. “Justamente por ele já ser bastante integrado a esse ambiente, acreditei que era importante conseguir a indicação dele para substituir Teixeira”, assim justificou José Maria Marin sobre a chegada de Del Nero ao órgão máximo do futebol. Detalhe: o presidente da FPF também é membro do comitê executivo da Confederação Sul-Americana (Conmebol).

Mas nem tudo é tão simples. De acordo com um relatório feito pelo ex-superintendente da CBF, Marco Antonio Teixeira, a ascensão de Del Nero à Fifa já havia sido negociada meses antes com Ricardo Teixeira. A própria demissão do sobrinho do ex-presidente teria sido acertada com Del Nero e Marin, assim como a permanência do diretor de seleções, Andrés Sanchez, e do técnico Mano Menezes, pelo menos até os Jogos Olímpicos de Londres. O documento foi entregue aos chamados cartolas “rebeldes”, que tentaram promover uma eleição após a renúncia do ex-genro de João Havelange. “Tudo o que aconteceu já estava escrito no dossiê de Marco Antonio Teixeira. Até a desistência do Brasil em sediar a Copa América de 2015 em favor do Chile, para obter apoio dos países sul-americanos para a indicação de Del Nero para Fifa”, afirma Novelletto, um dos revoltosos, ao lado dos presidentes das federações do Rio de Janeiro, Bahia, Minas Gerais e Paraná. Questionado, Del Nero nega tudo.

Amigo de Ricardo Teixeira e principal conselheiro de Marin, Del Nero enfrenta um único senão para controlar de fato a CBF, embora não admita. Nesta semana, será escolhido um novo vice-presidente da entidade, que tem um total de cinco. O mais idoso sempre assume em caso de saída do mandatário. Foi o que aconteceu com Marin, o ex-governador paulista de 80 anos ligado ao São Paulo Futebol Clube. Para evitar que Del Nero também abocanhe esse cargo, o presidente da Federação do Rio de Janeiro, Rubens Lopes, lançou o nome do multicampeão, como jogador e técnico, Mário Jorge Lobo Zagallo, 80 anos. “Este cargo é meu. Eu não abro mão”, disse o cartola carioca. Questionado se irá disputar com o popular ídolo ou declinar da competição, Del Nero desconversa. “Este é um caso em aberto.” Mas sobre outra eleição, a de presidente da CBF, em 2015, ele não se faz de rogado. “O presidente da CBF é José Maria Marin. Eu não sou candidato. Mas, se acharem que eu posso contribuir, estarei à disposição”, afirma. Discurso de candidato ele já tem. 
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PS: numa demonstração de falta de habilidade e desatualização com o futebol brasileiro de quem realmente é quem, um "importante" dirigente do futebol paranaense que nas horas vagas vende troféus, lançou-se contra José Maria Marin e Marco Polo Del Nero. Mas como a notícia corre na velocidade do míssil Tomahawk, lá na CBF todo mundo já sabe quem é o magano e é desnecessário dizer que todos estão de olhos bem arregalados com as  movimentações do  "desatualizado personagem"no acanhado futebol do Paraná.

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