segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Blatter: "O futebol tem uma imagem muito positiva"

Blatter: "O futebol tem uma imagem muito positiva"
© AFP
O presidente da FIFA, Joseph S. Blatter, concedeu ao jornal alemão Frankfurter Allgemeinen Sonntagszeitung uma abrangente entrevista que o Fifa.com reproduz aqui na íntegra.
 

Com que imagem o senhor deseja entrar para a história na condição de presidente da Fifa?
Estou na Fifa desde 1975. Fui o primeiro colaborador para o desenvolvimento e, em última análise, continuo exercendo esta função. O meu objetivo mais importante é inserir os elementos socioculturais do futebol na nossa sociedade.

No entanto, o senhor está enfrentando outros problemas atualmente...
Precisamos recolocar a imagem da Fifa no mesmo nível do futebol. O futebol tem uma imagem muito positiva.

No momento, o senhor mesmo desempenha o papel de reformador. Precisou passar por alguma mudança pessoal para isso?
Não.

O senhor é católico e, como tal, sabe que antes da absolvição é preciso reconhecer os pecados e arrepender-se deles...
Reconhecer , sim; arrepender-se, nunca. Percebo o que está acontecendo no mundo e reconheço que algo precisa ser mudado na Fifa.

Mas certa vez o senhor escreveu em uma coluna na Internet que erros horríveis já foram cometidos. Esses erros foram cometidos pelo senhor?
Veja dessa forma: quem trabalha muito comete erros de vez em quando. Um que nunca mais repetirei é permitir que o Comitê Executivo decida a sede de dois Mundiais ao mesmo tempo. Isso provocou conflitos de interesses, porque todos podiam votar, mesmo que o seu próprio país fosse candidato. Foi um erro.

Um erro pessoal?
Sim, também.

Depois de 36 anos na Fifa, o senhor deve reconhecer que foi o arquiteto de todo o sistema — inclusive da evidente corrupção existente. Como tolerou isso?
Quando o senhor afirma que eu tolerei isso, é preciso lembrar que a unidade de liderança é do Comitê Executivo, que não é nomeado pelo presidente. Os seus membros são eleitos pelas seis confederações. Dessa forma, compartilho a liderança com pessoas de diferentes culturas e ambientes sociais. Elas têm concepções diversas sobre ética e moral. Eu não as escolhi. Não posso ser responsabilizado pelos atos delas. Sou o rosto da entidade, mas não sou um ditador. No entanto, agora consegui colocar o Comitê Executivo no lugar onde eu queria. Na última reunião no dia 21 de outubro, todos os membros presentes — quatro deles faltaram — votaram pela nova estrutura. Agora finalmente tenho o apoio para colocar em prática as reformas necessárias.

Agora haverá quatro forças-tarefa que trabalharão para um novo Comitê de Boa-Governança. Os membros do Comitê Executivo apoiarão os planos de reforma do senhor, mesmo que isso os deixe vulneráveis à linha de tiro?
No último Congresso levei três assuntos para votação.
 

Quais foram exatamente?
Ficou decidido que no futuro o Congresso, ou seja, os representantes das 208 nações filiadas à Fifa, elegerão a sede de qualquer Copa do Mundo da Fifa, e não mais o Comitê Executivo. Também se estabeleceu que o Comitê de Ética deve ser ampliado e que haverá um departamento de investigação e um tribunal, cujos membros serão eleitos pelo Congresso, não pelo Comitê Executivo. E também foi decidida a nomeação do Comitê de Boa-Governança. Tudo foi realizado com 99% dos votos. Questionaram recentemente se eu tinha competência para colocar isso em votação, então precisei dizer: "Desculpem, mas o Congresso é soberano".



"Precisamos recolocar a imagem da Fifa no mesmo nível do futebol. O futebol tem uma imagem muito positiva
Joseph S. Blatter."

O Comitê Executivo, que conta com 24 membros, está passando por um processo de transição que ainda levará um bom tempo para ser concluído. Há acusações de corrupção contra vários membros. Contra outros há processos judiciais em andamento nos seus respectivos países. Além disso, o senhor quer abrir os atos do processo de insolvência da agência de marketing ISL/ISMM, que contém os nomes das pessoas que foram subornadas. Sobrará alguém do atual Comitê Executivo, depois que a poeira baixar?
Não são tantos os envolvidos, mas parece que alguns não poderão permanecer no Comitê Executivo. Não quero falar de forma específica sobre o caso da ISL no momento, mas o faremos de forma aberta e pública e solicitaremos a uma instituição independente que avalie aqueles documentos. Posso apenas dizer que não há nenhum suíço na lista de pessoas que aceitaram pagamentos em dinheiro. Enganam-se aqueles que me caçam e dizem que Sepp Blatter está na lista.
 

Alguns nomes dos membros do Comitê Executivo que estão sendo relacionados publicamente aos casos de corrupção são Worawi Makudi, da Tailândia, Issa Hayatou, de Camarões, Nicolás Leoz, do Paraguai, Julio Grondona, da Argentina, e Ricardo Teixeira, do Brasil.
Se o senhor se refere aos documentos relacionados ao caso da ISL, posso afirmar que essa lista não está correta. Posso dizer que solicitamos ao Sr. Makudi esclarecimentos sobre um projeto humanitário da nossa entidade.Trata-se do nosso dinheiro. Vieram informações da Tailândia de que o projeto havia sido construído em um terreno pelo qual nós pagamos e que aparentemente já pertencia a ele. O caso já está sendo julgado em um tribunal da Tailândia. Se alguma irregularidade tiver ocorrido, ela será encaminhada ao Comitê de Ética.

O presidente da Confederação Aficana de Futebol, Issa Hayatou, que recentemente foi nomeado diretor do programa Goal, está sendo investigado até pelo Comitê Olímpico Internacional. Dizem que o caso envolve dinheiro da ISL. Que tipo de punição podemos esperar, caso fique comprovado que ele é culpado?
Não somos nós que estamos averiguando isso, e, sim, o COI. A investigação se refere a uma pequena soma inferior a 25 mil francos suíços. E esse valor foi devidamente registrado nos livros de contabilidade da CAF, que também são controlados por nós.

Caso sejam comprovadas as acusações contra um membro do Comitê Executivo, quais seriam as consequências?
A pessoa precisaria ou renunciar ao cargo ou aguardar para ver o que a investigação independente decidirá. Eu gostaria de enfatizar que os pagamentos que a ISL fez naquela época não eram ilegais.

Mas eles passam a impressão de não serem inteiramente corretos...
É verdade.

Caso alguns membros do Executivo precisem renunciar, eles terão de ser substituídos. Será que o problema não continuaria com os novos membros?
Não, não continuaria.

E por que não?
Porque são novos tempos. Uma das quatro Forças-Tarefa que criamos, para Transparência e Conformidade, começará a trabalhar em breve. Ela é composta por seis representantes do Congresso, e não do Comitê Executivo, e eles foram nomeados por mim. A presidência é exercida pelo presidente da Federação Paraguaia de Futebol, Juan Ángel Napout, e pelo presidente da Federação Neozelandesa de Futebol, Frank van Hattum. O presidente da federação da Dinamarca, Allan Hansen, que falou em nome dos países nórdicos no Congresso e pediu mais transparência, também integra a Força-Tarefa. Entre outras atividades, essas pessoas garantirão a probidade ética e moral dos novos membros do Comitê Executivo. A Fifa exigirá referências sólidas quanto ao caráter deles.

E quanto aos antigos membros?
Esta é uma questão jurídica. Mas estou convencido de que todos os membros passarão por averiguações desse tipo.

E quanto ao senhor?
Sim, certamente.

Quando isso deverá acontecer?
No primeiro trimestre do ano que vem.

O senhor já pensou em mudar completamente a forma de eleição dos membros do Comitê Executivo?
É uma possibilidade. O Congresso poderia elegê-los.

E qual é a probabilidade de isso ocorrer?
Se dependesse apenas de mim, colocaria todos os órgãos institucionais sob a autoridade do Congresso. Mas refletir sobre isso é atribuição da Força-Tarefa de Revisão dos Estatutos, presidida pelo Dr. Theo Zwanziger. No momento, os membros do Comitê Executivo são eleitos pelas confederações. Mas eles deveriam ser apenas indicados pelas confederações e eleitos pelo Congresso.
 

Isso significa que o Comitê Executivo não votaria em si próprio?
Certamente que não. Mas toda e qualquer alteração precisa ser decidida pelo Congresso.

A concessão dos Mundiais de 2018 e 2014 para Rússia e Catar também será investigada outra vez?
Atualmente estamos trabalhando com especialistas renomados como Sylvia Schenk, da Transparência Internacional, e o professor Marc Pieth, especialista anticorrupção de Basel. Eles estão passando a avaliação deles para o Comitê de Boa Governança, que apresentará propostas ao Comitê Executivo e ao Congresso, onde a matéria será tratada.

O presidente da Federação Alemã de Futebol, Theo Zwanziger, disse que os votos para o Catar podem ter sido feitos por pressão política. Nesse caso, a forma primitiva da corrupção não teria sequer sido necessária. Ele está certo?
Não quero me expressar sobre isso. Deixo esse tema para o Comitê de Boa Governança.

Quem fará parte deste comitê? Até agora, sabe-se apenas que metade dela será formada por integrantes da Fifa e a outra metade por pessoas de fora...
Essa informação será divulgada após a reunião do Comitê Executivo que acontecerá no dia 17 de dezembro.
 

E será que os Comitês de Transparência e Boa Governança terão acesso aos casos analisados pelo Comitê de Ética, como os processos aberto contra o seu concorrente Mohamed Bin Hammam e contra o senhor pouco antes da sua reeleição em junho?
As comissões trabalham em parceria. O meu processo diante do Comitê de Ética pode ser integralmente aberto ao público. Não peço nenhum tratamento especial. Não tenho nada a confessar e nem do que me arrepender ou desculpar em relação a esse caso.
 

Theo Zwanziger é o presidente da comissão que foi encarregada da revisão dos estatutos. Ele não deveria estar se preocupando apenas com a federação do país dele? Com as revelações feitas recentemente em relação aos árbitros na Alemanha, ele certamente anda muito ocupado...
A  Alemanha é um país importantíssimo para o futebol. O Theo Zwanziger preside uma das principais federações do planeta. Todas as decisões que ele toma são cuidadosamente examinadas. Ele é um homem que se comunica muito e é criticado por isso, mas as pessoas que se comunicam muito, como eu, estão acostumadas às críticas. Ele é um dos membros mais valiosos do meu Comitê Executivo. Ele conhece as leis e sabe como as federações funcionam. Trabalhamos bem juntos e ele já realizou muitas coisas boas.
Fonte: Fifa.com

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