quarta-feira, 15 de junho de 2011

Arbitragem admite crise emocional e vai ao divã

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Esportes, investiga o comportamento emocional da arbitragem dentro das quatro linhas.

Qual o sistema emocional que aguenta passar sem abalos por um pacote de pressão que inclui bate-bocas com jogadores, ofensas pesadas de torcidas e a necessidade de tomar cerca de 200 decisões rápidas, tudo isso em um espaço de duas horas? A função de árbitro está cada vez mais sujeita ao desgaste emocional e pede ajuda da psicologia. CBF e Federação Paulista já foram confrontadas a esta necessidade e contam hoje com profissionais da área para conter o stress que tirou de atividade um dos nomes da elite na última década e que já é comparado ao esgotamento de um alto executivo.

Recentemente o debate se expandiu graças ao estudo do árbitro e psicólogo Mauro Viana pregando a necessidade de suporte desta natureza para a classe. Na briga para caminhar rumo à profissionalização da atividade, ou por uma condição que se aproxime disso, a Anaf (Associação Nacional dos Árbitros de Futebol) reconhece a carência de auxílio psicológico na preparação de juízes de futebol.


"A nossa função sofre mais pressões que um ser humano normal. Se um ser humano normal já precisa de um psicólogo, imagina o arbitro”, Marco Antonio Martins, presidente da entidade.  “Existe essa necessidade, a gente cobra da CBF, mas já acontece de alguma forma, ela tem uma psicóloga que dá atendimento aos árbitros. O problema é que estamos em um país continental com uma psicóloga só. Tem que ser por e-mail, por Skype. O ideal seria "tête-à-tête", mas já é um avanço", emenda.


São Paulo também conta com um profissional que trabalha durante o ano todo para acompanhar os árbitros do Estado. "São Paulo dá todo esse suporte. Esse profissional acompanha os treinamentos físicos, técnicos, está no campo de jogo. Por isso que temos gente apitando finais regionais em todo o Brasil, como o Sálvio (Spinola), o (Cleber) Abade, o PC (de Oliveira) e o (Wilson) Seneme", diz Arthur Alves Junior, presidente da Safesp, Sindicado dos Árbitros de Futebol do Estado de São Paulo.


PSICÓLOGA DA CBF ATENDE ATRAVÉS DO SKYPE

Desde 2007 a CBF conta com os serviços da psicóloga Marta Magalhães Sousa no suporte emocional da arbitragem do país. A profissional costuma acompanhar os testes físicos dos juízes e está a postos para resolver outras demandas assim que elas surgirem. Os acompanhamentos são feitos in loco, por telefone e até por Skype, software que permite comunicação pela internet através de conexões de vídeo e voz. Em pauta temas como pressão por resultados e stress pela necessidade de manter outro tipo de trabalho para o sustento familiar.


A Federação Paulista também conta com um profissional que serve os árbitros do Estado com auxílio psicológico. É Gustavo Korte, que descarta o consultório e prefere o trabalho dentro de campo. "Trabalhamos onde as emoções estão, dentro de campo, nos jogos. Trabalhamos concentração, comunicação verbal, não verbal, foco, visão periférica, em pratica orientada em equipe", diz. O psicólogo compara o nível de stress dos juízes de futebol com homens de negócio de sucesso. "A pressão é muito grande. O alto executivo tem de lidar com pressão de administrar tempo, da mesma forma atletas de alto rendimento e árbitros neste nível. Lembra a pressão de liderança do mundo corporativo", diz.


Eleito quatro vezes o melhor do Brasileirão, Leonardo Gaciba abandonou o apito em 2010 antes da idade limite para a aposentadoria, aos 39 anos. O árbitro gaúcho falhou em testes físicos para se manter no quadro da Fifa e posteriormente não conseguiu passar em exames semelhantes da CBF, tudo graças a um bloqueio emocional publicamente assumido. "Participei desse processo junto com a Dra. Marta (CBF), ele tinha um bloqueio, não conseguia executar os testes", disse Marco Antonio Martins, da Anaf. Na época, Gaciba falhou em uma bateria de 20 km, em quatro etapas, e disse: "Está difícil vencer esse bloqueio psicológico".


A presença recente de mulheres em trios de arbitragens suscitou uma série de críticas, como a do ex-corintiano Carlos Tevez e a do ex-dirigente do Botafogo Carlos Augusto Montenegro. Outras cornetadas resvalaram no preconceito. Mas segundo a mais célebre representante feminina da arbitragem nacional, a assistente Ana Paula Oliveira, esse não é o maior problema. "A própria família pressiona muito. A sobrinha quer saber o motivo de você estar ausente da escala, o irmão questiona as críticas do comentarista, 'por que ele disse isso?', etc", diz. Outra pressão adicional sobre as mulheres é a obrigatoriedade de elas passarem por padrões de testes físicos com as mesmas exigências para os homens, em decisão que vigora desde 2007.

Fonte: UOL Esportes/Safergs

 

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