terça-feira, 24 de maio de 2011

Especialistas em impedimento

 (Fifa.com)


Especialistas em impedimento
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Quantas vezes em uma partida já reclamamos de um impedimento claríssimo não marcado para logo em seguida conferirmos na repetição que a jogada realmente havia sido limpa? Quantas vezes, mesmo vendo o replay em câmera lenta dez vezes, ainda assim discutimos com um amigo para saber se aquele jogador estava ou não adiantado?

Agora imagine se você não pudesse contar com um ponto de vista elevado e se estivesse ao lado do campo, correndo com os jogadores enquanto olha ao mesmo tempo para a bola e para a linha imaginária marcada pelo último zagueiro. E ainda tendo de tomar uma decisão em milésimos de segundo.


Assim é o trabalho do auxiliar, o famoso "bandeirinha", que precisa estar de olho em todos os lances durante 90 minutos, muitas vezes ao mesmo tempo em que sofre com as críticas de torcedores, jogadores e comissões técnicas. Para trabalhar nesse ofício, que parece tão pouco reconhecido, é necessário ter vocação, algo que Yolanda Parga Rodríguez tem de sobra.


"Quando eu era adolescente, entrei um dia na sala da minha casa usando o uniforme do meu pai, que tinha sido juiz de linha na primeira divisão da
Espanha, e disse que também queria", conta Rodríguez, árbitra assistente de projeção internacional que já está se preparando para participar da Copa do Mundo Feminina da Fifa Alemanha 2011. "O meu pai não ficou muito convencido com a ideia, mas me apoiou e agora está encantado e é o meu melhor crítico. Todo pai gosta que os filhos sigam os seus passos, e neste caso teve de ser uma das filhas. A minha família é o meu principal apoio e me ajuda muitíssimo."

"Nem sempre é fácil encontrar tempo", prossegue Yolanda. "Tenho sorte porque com os meus horários de manhã posso dedicar as tardes a treinamentos, mas quando chegam as competições é preciso sacrificar as férias e dias livres, e ainda pedir folgas para viajar", acrescenta a jovem mãe de 32 anos, que assegura que sofreu mais nos primeiros anos, em função da juventude e da falta de experiência, do que agora, mais segura de si e imune a pressões externas.


Além do apoio da família, também é fundamental o entrosamento com o grupo que viverá junto durante mais de um mês na Alemanha. Foi nesse ambiente que Yolanda encontrou outra espanhola, María Luisa Villa Gutiérrez. "Somos muito amigas e passamos o dia conversando", conta María, árbitra auxiliar em competições internacionais desde 2002.


Desafio contínuo

María começou como treinadora de futebol infantil e, para conhecer melhor o esporte, fez um curso de arbitragem. Quando o terminou, já tinha certeza de que queria trabalhar como assistente de linha. "O que mais me emocionava no futebol era o impedimento", observa. "É um desafio contínuo. É impressionante como as equipes trabalham a linha de impedimento. Antes de cada partida, me preparo estudando as táticas e as características de cada jogadora."  

Bem preparadas, as bandeirinhas não precisam de repetição. "A gente vê", esclarece Yolanda. "Estamos muito concentradas, e o cérebro responde. É claro que há situações que geram dúvidas, mas não podemos ficar bloqueadas. A partida continua, e não há tempo para dar voltas. O mais importante é que não influa no nosso trabalho no resto da partida."

Para Yolanda, que também trabalha como assistente social, concentração e preparação física são fundamentais para uma boa colocação, sempre na mesma linha do último jogador de defesa. "Não dá para se distrair um segundo", acrescenta María, que combina os estudos para concursos públicos com a arbitragem na segunda divisão B espanhola.

A Copa do Mundo Feminina da Fifa motiva e emociona as
árbitras. Elas já estiveram no país-sede no ano passado, para o Mundial Sub-20, mas agora há muito mais em jogo. "A Alemanha vive o futebol feminino muito intensamente, e o torneio será muito especial", reconhece María, que hesita um pouco antes de destacar a partida mais importante da sua carreira. "Foi a final do torneio olímpico de Pequim", comenta. "Como os jogadores, fico com as decisões. Sempre é difícil chegar a uma, e no nosso caso há outro fator: as equipes que a disputam não podem ser da sua confederação."

Ambas são apaixonadas por futebol e veem todas as partidas que podem. "Sempre é possível aprender algo, pois vamos observando outros colegas e absorvendo o que pode se adaptar melhor à nossa forma de arbitrar", concordam.


Enquanto se preparam para a viagem, arrumam as malas e seguem vendo futebol, as duas trabalham duro para manterem a forma física e passarem sem problemas pelos exames obrigatórios da Federação Espanhola antes do embarque à Alemanha, onde a Fifa voltará a testar o desempenho delas às vésperas do Mundial. Afinal, na hora do jogo, não há tempo para pedir replay.

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