sexta-feira, 18 de março de 2011

A mãe do árbitro!

Arlindo Peçanha era árbitro de futebol. Andou pelo Maracanã nos anos 80 e 90, fininho, rápido, sempre em cima do lance, numa época em que a arbitragem ainda era famosa pelo excesso de barriga e escassez de agilidade. Orgulhava-se de sua invisibilidade em campo: árbitro bom é aquele que não aparece na partida. Os locutores mal sabiam seu nome, a torcida o desconhecia, jogo com Arlindo era arbitragem de videogame.


Lindalva Peçanha era a mãe de Arlindo. Senhora mui católica, mas sem ranço. Velhinha branquinha que nem neve, enrugada que nem damasco seco. Sempre orgulhosa do único filho. Viúva desde sempre, dizia. Não era muito de sair, não era muito de falar, porém quando saía, porém quando falava, dona Lindalva parava a rua. Era a pseudo-vovó mais simpática da Tijuca e, ultimamente, mostrava a dentadura à toa, estava à beira de completar noventa anos.

- Não acredito, mamãe!

- Que foi, Lindinho?

- Fui convidado pra apitar a final.

- Ai, minha virgiMaria, que coisa mais boa, sempre foi seu sonho!

- Mas, mamãe, a final é justamente no aniversário da senhora.

Apesar das eternas insistências da velha, Arlindo Peçanha nunca tinha levado dona Lindalva pra assistir a um jogo. Achava que futebol não era coisa pra mulher, muito menos pra uma senhora, muito menos ainda pra uma senhora sua mãe.

- O campo do Maracanã é grande, filho?

- É enorme, mãe.

- Maior que a casa do teu tio Arnaldo?

- Muito maior, mãe.

Dona Lindalva não entendia absolutamente nada de futebol, sequer entendia pra que servia a profissão do seu filho. Como podia vinte e dois homens não conseguirem organizar uma partida? E pra que um campo tão grande? Como podiam correr assim ao sol? E de onde saía tanta gente pra ver aqueles jogos? Se uma mulher pode chegar aos 90 anos com alguma curiosidade, a de dona Lindalva era essa: o que acontecia dentro do Maracanã?


Fonte: Blog No Front do Rio/Refereetip.blogspot.com

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