quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Simon fala ao Bicudo


O árbitro Carlos Eugênio Simon se prepara para "pendurar o apito" ao final da temporada e engajar, talvez, na vida política. Representante brasileiro nas últimas três Copas do Mundo, Simon é, como um bom árbitro, adorado por muitos e contestado por tantos outros torcedores. Em entrevista exclusiva ao Paraná Online/Justiça Desportiva, Simon fala dos anos de carreira, da experiência que adquiriu com o tempo, analisa o momento da arbitragem no Brasil e no mundo, além de comentar da necessidade da profissionalização da classe e das mudanças que podem revolucionar a atuação dos juízes em campo e do futebol como um todo.

Carlos Eugênio Simon formou-se em jornalismo pela PUC-RS, escreveu o livro Na Diagonal do Campo, sobre regras do jogo de futebol e rotina de um árbitro, e, além das três Copas do Mundo, apitou quatro finais de Campeonato Brasileiro, cinco da Copa do Brasil, uma da Libertadores e outra do Mundial de Clubes.

O senhor é o principal árbitro brasileiro na atualidade. Qual é a sensação de ter participado de três Copas do Mundo, fato inédito na arbitragem brasileira.

Carlos Eugênio Simon -
"A sensação de participar de uma Copa é maravilhosa, imagina de três. Tudo isso é o resultado de muita disciplina, sacrifício e determinação. Vale destacar a importância do apoio da família, dos árbitros, assistentes e amigos".

Há muita pressão sobre os membros da Comissão de Arbitragem da Fifa num Mundial à exemplo do que ocorre no Brasil com o Campeonato Brasileiro?

Carlos Eugênio Simon - "A pressão no futebol e neste tipo de competição é altíssima para todos".

Por que os árbitros e assistentes se equivocaram de forma tão acentuada na Copa da África do Sul, já que o processo seletivo foi considerado pela Fifa inédito em se tratando de arbitragem?

Carlos Eugênio Simon -
"A maioria das decisões foi acertada. Houve poucos equívocos, a falibilidade faz parte do ser humano. Penso que o treinamento e a preparação adequados foram realizados com os assistentes e os árbitros. Não dá mais para retroceder no processo, é daí para diante".

Por que o senhor e os assistentes Altermir Hausmann e Roberto Braatz, embora tivessem realizado um excelente trabalho, não foram escalados em mais jogos?

Carlos Eugênio Simon -
"Nós fizemos a nossa parte, que era entrar em campo e trabalhar com competência. Trabalhamos em dois jogos de grande magnitude e fomos elogiados por todos - comissão, instrutores, colegas e imprensa. Nós somos árbitros e não somos responsáveis pelas escalas".

Como observa e qual é a definição da mídia sobre o trabalho do árbitro no Brasil, na América do Sul e a nível mundial também?

Carlos Eugênio Simon - "Há setores da mídia em escala mundial que conhece ou já trabalhou na arbitragem, porém a grande maioria sabe muito pouco desta atividade".

O senhor é a favor da profissionalização da arbitragem na sua totalidade ou apenas para as grandes competições? No Brasil, há condições para a profissionalização do árbitro de futebol?

Carlos Eugênio Simon -
"É a única saída que vejo. O futebol já faz tempo virou um grande negócio e o árbitro continua ‘amador'. Sempre defendi e continuarei a defender a profissionalização da arbitragem".

Qual é o caminho para que a arbitragem brasileira defina ou aproxime-se dos critérios equitativos de interpretação e aplicação sobre as Regras do Jogo?

Carlos Eugênio Simon - "Temos que acabar com o sorteio no Brasil. Isso, na minha opinião, foi um atraso para o futebol brasileiro, porque por esse critério o árbitro fica refém da sorte e não da melhor condição técnica e física. É imprescindível lutar pela regulamentação e profissionalização da arbitragem, dar condições e garantias aos ‘profissionais' do apito".

Como o senhor vê a implementação de mais dois assistentes atrás das metas, como defendem alguns ex-jogadores e entidades, e que já vem sendo experimentado?

Carlos Eugênio Simon - "Pelo que li e ouvi até agora, sou favorável. Penso que nesses lances de área e linha da meta irá ajudar bastante, sim".

Como analisa o uso da tecnologia no futebol?

Carlos Eugênio Simon -
"O chip na bola seria uma das soluções para lances como aquele de Inglaterra e Alemanha, em que a bola ultrapassou totalmente a linha de meta em 33 centímetros e não pode ser vista a olho nu pela arbitragem. Sou favorável à bandeira e ponto eletrônicos e ao chip na bola. O que não sou favorável é parar o jogo e olhar o replay".

O que pode dizer para que árbitros e assistentes não sofram tamanha exposição diante de 32 câmeras de TV?

Carlos Eugênio Simon -
"Como escrevi anteriormente, as emoções e a pressão são fortes no futebol e temos que ter o apoio de psicólogos, técnicos, instrutores, linguagem corporal. Tudo isto para amenizar a tensão".

Não é injusto toda a utilização de tecnologia de ponta contra um árbitro que tem apenas dois olhos?

Carlos Eugênio Simon - "Pode até ser injusto, porém vivemos na era da tecnologia. Mas a matemática da arbitragem também é injusta. Se você apitar dez jogos e se equivocar em um, é desse que vão lembrar. O árbitro toma em média cerca de 150 decisões em uma partida e acerta a maioria, mas o que fica para o debate é aquele que ele errou".

Com o senhor vê alguns "alienígenas", que nunca exerceram nenhuma função relacionada a arbitragem, como observador da performance dos juízes no Campeonato Brasileiro?

Carlos Eugênio Simon - "Não tenho conhecimento de todos os observadores, embora eu pense que aquele que já teve experiência no campo seria o mais adequado, salvo raras exceções".

O senhor deixa o quadro da Fifa ao final da temporada por a idade limite de 45 anos. Quais são os árbitros que indicaria para sucedê-lo?

Carlos Eugênio Simon -
"A arbitragem brasileira é competente e temos árbitros que podem perfeitamente me suceder".

Quais são os seus projetos após "pendurar o apito"?

Carlos Eugênio Simon -
"Por enquanto não penso muito nisto. Quero terminar minha carreira na plenitude física, técnica e psicológica".

O italiano Pierluigi Collina assumiu a direção de árbitros da Uefa. Como é a sua relação com ele e o que acha desta nova função?

Carlos Eugênio Simon -
"Trabalhamos na Copa de 2002. Foi um grande árbitro e comandou a arbitragem italiana com competência. Conversei com ele na África do Sul e ele me falou do projeto de trabalhar para a Fifa".

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