quinta-feira, 30 de setembro de 2010

SIMON. UM VIZINHO DOS BUENOS!



Aqui na cidade grande é tudo diferente! As pessoas, principalmente. Todos apressados, indiferentes, sem tempo para um dedo de prosa. É a chamada “vida agitada” aonde as relações humanas vão se degradando. Lá fora não! Lá fora se estende a mão para saudação de um buenos dias. Se grita um ôh de casa e se escuta: - Passe pra diante, companheiro! As crianças, beijando as mãos enrugadas pelo tempo, pedem benção para seus avós que lhes respondem: - Que Deus te abençoe!

No interior deste Rio Grande antigo as pessoas, mesmo morando distantes uns dos outros, sabem da doença de um vizinho e acodem, de carreta, de a cavalo, a qualquer hora e com qualquer tempo, para prestar seu socorro que pode ser apenas uma xícara de chá, uma benzedura. Mas a presença dos amigos ajuda na cura. Lá, nos fundos de campos desta Querência de São Pedro, quando se mata um porco, todos se apresentam, no trabalho e na festa. São parceiraços, na tristeza e na alegria.

Mas no povoeiro a coisa muda. É cada um por si e por sua família. Moro a seis anos num edifício do Bairro Petrópolis, na capital dos gaúchos e não me perguntem o nome de meus vizinhos de porta porque não sei. Não me questionem o que fazem porque não imagino.

Mas como toda a regra tem exceção, a indiferença que campeia no meu prédio também tem. Uma destas exceções chama-se Carlos Eugênio Simon. Árbitro da FIFA, andejo dos sete ventos deste mundo velho sem porteiras, pessoa respeitada do Galpão à Casa Grande. Nem quero entrar aqui na seara futebolística, apesar de achar o Simon um dos melhores juízes que já vi apitar. E sua profissão não é das mais fáceis. Tem segundos para decidir e um lote de câmaras para acusar seus erros. Falo, aqui, da pessoa, do colecionador de cuias, do leitor das poesias do Jayme, do gaúcho que dá entrevista com a bandeira do Rio Grande no colo, do riograndense que cantarola, em meio a uma reportagem, a Querência Amada, do saudoso Teixeirinha. Do vizinho que, quando não proseia contigo, no mínimo, te cumprimenta.

Moro no apartamento 303, o Simon, no 803. Cinco andares que poderiam ser cinco léguas, mas para quem tem no sangue a hospitalidade pampeana, a educação brotada nas rodas de mates, nada é distância. O Carlos Simon, meus patrícios, é aquela brasa tapada pelas cinzas que com um sopro já se avulta para dizer: - Sou um homem cruzador de caminhos, mas a minha alma ainda é lá de fora!
Fonte: www.blogdoleoribeiro.blogspot.com

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