segunda-feira, 19 de julho de 2010

FPF implantou política em que tudo é cobrado



Felipe Lessa
Allan Costa Pinto
Fachada da FPF: entidade não perdoou nem o jogo com a pior renda do futebol paranaense.
Sábado, 10 de julho. Estádio do Xingu, São José dos Pinhais. Apenas três pessoas pagaram para ver o São José ser derrotado pela Portuguesa Londrinense por 2 x 0, pela Divisão de Acesso 2010 - a Segunda Divisão do Campeonato Paranense. Os míseros R$ 15 de renda, no jogo de menor público pagante da história do futebol paranaense, não representaram nem 1% do que a partida deu de prejuízo: R$ 2.559,88, como indicou o borderô da Federação Paranaense de Futebol (FPF).
O exemplo acima revela o quão difícil é fazer futebol no Paraná. Se na era Onaireves Moura os clubes já pagavam para jogar, agora, mais ainda. Enquanto segue sem oferecer competições rentáveis para seus filiados disputarem, a FPF implantou uma política em que tudo é cobrado das equipes. No emblemático São José 0 x 2 Portuguesa Londrinense, a federação não abriu mão nem de R$ 1,50 - equivalente aos 10% que tem direito sobre cada renda de jogo.

Transformada em um verdadeiro cartório de arrecadação na gestão Hélio Cury, a FPF não subsidia nada aos clubes profissionais. Tudo é cobrado, com valores que podem ir de R$ 0,50 por uma folha de xerox até R$ 200 mil para equipes que pretendam mudar de cidade. Arrecadando cada vez mais, mesmo com contas bloqueadas e uma série de dependências herdadas da gestão anterior, conseguiu fechar 2009 com um superávit de R$ 700 mil em seu balanço.

A Federação Paranaense de Futebol também não alivia dos clubes na taxa de arbitragem, que pelo artigo 30 do Estatuto do Torcedor deveria ser paga pela entidade que organiza o campeonato. Está escrito: “A remuneração do árbitro e de seus auxiliares será de responsabilidade da entidade de administração do desporto ou da liga organizadora do evento esportivo”. Mesmo assim, as taxas cobradas pela FPF variam de R$ 300 a R$ 2,5 mil (árbitros Fifa).
Quem não paga as taxas impostas pela federação corre o risco de ser denunciado ao Tribunal de Justiça Desportiva e ser suspenso da competição e banido de outras futuras. O Iguaçu de União da Vitória, que tentou disputar a Divisão de Acesso, sentiu isso na pele este ano. Há, porém, os que pagam e que veem a cada ano o prejuízo crescer. É o caso do Paranavaí, que por causa das disputas do Campeonato Paranaense de 2009 e 2010 contabiliza um furo de caixa estimado em R$ 300 mil.

Por isso, quem está fora também pensa duas vezes antes de entrar. Um dos casos é o do Bordeaux. Pensando nos altos gastos que teria de pagar só para se filiar na FPF -R$ 50 mil -, a fim de disputar a Terceirona estadual, o clube de Telêmaco Borba preferiu deixar para o ano que vem o retorno da cidade ao futebol paranaense. O mesmo serviu para o tradicional União Bandeirante, que, segundo o diretor de futebol, Nelson Santos, precisa de um “melhor planejamento para não voltar no vermelho”.

O fato de a FPF cobrar o que cobra não condiz com que ela oferece aos clubes. Sem mostrar nenhuma estratégia de marketing para o futebol paranaense, a federação promove competições que não geram alternativas financeiras para os times. Até a cota de televisão do Campeonato Paranaense (R$ 4 milhões), se comparada com os estaduais de outros estados menos importantes do futebol brasileiro, pode ser considerada uma “esmola” aos clubes. “Disputar os campeonatos da federação é pregar no deserto”, diz um dirigente de um clube da Primeira Divisão, que pediu que seu nome fosse omitido para não sofrer represálias. O mesmo dirigente definiu a atual realidade do futebol paranaense: “Federação forte, clubes fracos.”

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